quarta-feira, 13 de julho de 2011

A FASE ORAL

1.DEFINIÇÃO

Fase oral é a primeira fase da evolução libidinal. O prazer sexual estápredominantemente ligado à excitação da cavidade bucal e dos lábios que acompanham a alimentação. A atividade de nutrição fornece as significações eletivas pelas quais se exprime e se organiza a relação de objeto.
A fase oral foi dividida em duas fases: sucção e sádico-oral ou canibalística. A primeira, cuja satisfação é assegurada pela atividade de sugar, se estende até o sexto mês. Na segunda fase, a forma de prazer muda com o aparecimento dos dentes e substitui a sucção pelo prazer de mastigar e devorar estende-se dos seis meses até por volta dos dois anos.
Este período do desenvolvimento da personalidade é assim chamado porque a maior parte das necessidades e interesses da criança está concentrada na porção superior do trato digestivo. Os seus impulsos são satisfeitos principalmente, na área da boca, esôfago e estômago, ou melhor, a libido está intimamente associada ao processo da alimentação.

2. O RECÉM-NASCIDO E A MÃE

Em relação aos outros seres VIVOS, o ser humano nasce muito menos amadurecido e preparado para enfrentar os problemas relativos à sua sobrevivência. No recém-nascido humano, com sua condição biológica mais imatura, as atitudes maternas terão uma importância muito maior. Desde os primeiros instantes de vida, o comportamento materno exerce influência na formação da personalidade da criança, mesmo sem o uso de comunicação verbal.
A maneira como a mãe soluciona os problemas decorrente de seu novo papel, expressada pelos gestos e sentimentos em relação ao filho, irá segundo o seu resultado, provocar respostas de prazer ou desprazer no organismo infantil e isto terá um efeito duradouro na sua concepção da realidade.
Alguns aspectos maternos são indispensáveis para o bom relacionamento mãe-filho, base para um bom desenvolvimento vitorioso da personalidade. Entre eles podem ser citados os seguintes:
A atração que a mãe sente pelo filho, é expressa pela aceitação, prazerosa e incondicional, de ter sobre os seus cuidados um novo ser;
O sentimento de empatia pela criança, manifestado pela capacidade de reconhecer as necessidades do filho, ser sensível aos seus apelos e responder de maneira eficiente e oportuna;
A capacidade de aceitar o filho como ser independente de si mesma, com características próprias, exigências e direitos legítimos;
A proteção e apoio que pode dar permanentemente ao filho, de forma objetiva, julgando realisticamente os perigos reais ou potenciais que possam prejudicar sua integridade física ou psíquica;
A capacidade da mãe de estabelecer justas proibições com fins educativos sem sentir-se culpada.
Estes aspectos podem estar prejudicados em mães emocionalmente perturbadas.
Nestas, a afetividade, durante o contato com o filho, aparece carregada de angústia, agressividade, indiferença ou super-proteção. Por outro lado, há mães, que não resolveram adequadamente os seus conflitos emocionais da infância e inconscientemente, atuam na base de fantasias. Às vezes, nascimento de um filho vem satisfazer necessidades neuróticas da mãe, por exemplo, preenchendo o vazio resultante de sentimentos de solidão.
Não podemos nos esquecer, no desenvolvimento das relações mãe-filho, da enorme importância do meio familiar, quer dizer, das influências exercidas pelo ambiente e pelas outras pessoas do grupo familiar. O nascimento de uma criança, inevitavelmente, ocasionará uma redistribuição da energia emocional da família, bem como alterações de status e papéis.
Considerando todos os fatores acima, pode-se facilmente avaliar o grau de energia despendida por uma mãe, especialmente numa primigesta, para levar adiante sua tarefa maternal, tendo que enfrentar suas dificuldades internas, controlar as pressões do meio e compreender o significado das comunicações do recém-nascido.

3. POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE E DEPRESSIVA

Investigações clínicas com crianças, levaram Melanie Klein a chegar a algumas conclusões sobre a vida do bebê onde mostra que as relações do indivíduo com os objetos do mundo externo, desenvolvem-se em duas fases, que ela chamou de posições.
Na primeira, correspondendo aos três ou quatro primeiros meses, a criança relacionase com objetos parciais, ou seja, já uma falta de percepção das pessoas com um todo.
Através dos mecanismos de introjeção e projeção, tanto o erro com os objetos externos representados pelo seio são percebidos e manejados com partes boas e partes más, com as quais luta como se fossem objetos perseguidores. O objeto mal é o seio frustrador mais as projeções dos próprios impulsos destrutivos do indivíduo no seio. O objeto bom é o seio que gratifica, bem como as projeções dos próprios impulsos sexuais naquele. A criança não integra os dois objetos num só, como não consegue a coexistência, em si mesmo, de impulsos de vida e de morte. Assim, há uma cisão interna, acompanhada de sentimentos persecutórios. Por isso, esta posição foichamada de esquizoparanóide.
À segunda posição, denominou depressiva. Seu pico ocorre por volta dos seis meses, quando a criança já com grau de consciência desenvolvida reconhece a mãe como pessoa, ou seja, inicia as suas relações com objetos totais. Como os objetos externos agora são percebidos como independentes e capazes de reagir positiva ou negativamente, integrados em seus aspectos bons e maus, a criança desenvolve sentimentos de ansiedade e culpa. Quer dizer, as relações da mãe são sentidas como dependentes das manifestações dos impulsos da criança. Assim, uma expressão de hostilidade para o seio gratificador poderá resultar, na fantasia infantil, com a perda desse seio e o auto-aniquilamento. Mesmo que a mãe não reaja com rejeição, a criança que morde o seu seio e procura feri-la sente culpada pelos seus impulsos destruidores ao objeto de quem depende, e deprime-se. Para Melanie Klein, nessas primitivas relações objetais, começaria a se formar o superego.

4. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA FASE ORAL

Antes de falarmos das conseqüências da fase oral no desenvolvimento da
personalidade (desenvolvimento psicossocial, e caráter oral), vamos resumir as principais características desta fase.
Nesta fase, a libido está concentrada na porção superior do trato digestivo, principalmente na boca. A libido, entretanto, não está a serviço apenas das necessidades nutricionais, mas também da pura satisfação oral. A satisfação erótica na zona da boca, bem como outras necessidades libidinosas desta fase, como a necessidade de calor e contato humano, são bases para as relações da criança com os objetos do mundo externo. No início do período, ela não distingue o mundo externo de si mesma: sujeito e objeto confundem-se num todo e o seio materno é parte integrante da criança. Neste sentido, a libido estaria voltada para o próprio indivíduo, sendo, portanto, narcisista. À medida que vai se dando conta das satisfações e privações, o ego vai se diferenciando da realidade externa. O primeiro objeto de contato que é a própria mãe começa a ser percebido como uma pessoa independente e a libido é forçada, então, a sair de sua posição narcisista. Nos três primeiros meses, a relação com o objeto não é total, a criança relaciona-se com partes da mãe que se confundem com partes de si mesma. Não percebendo o objeto e o ego como entidades separadas, a criança faz uma cisão de suas partes, dividindo-as em boas e más e reage de conformidade com cada uma delas. Por volta dos seis meses, já há uma percepção da mãe como uma pessoa total, integrada em seus aspectos bons e maus. Então, as relações da criança com a mãe são em termos mais realistas e começa o aprendizado do controle dos impulsos frente às demandas do meio. Naturalmente, a mãe, como primeiro objeto de satisfação dos impulsos e também como primeiro objeto restrito, é a base para a configuração que a criança fará do mundo.
Quando a mãe oferece uma quantidade suficiente de afeto e calor, colocando medidas justas nas restrições às demandas da criança, esta ultrapassará com segurança o período, ora fortalecendo o ego e aumentando a sua auto-estima. Estará assim, preparada para enfrentar as novas dificuldades da fase seguinte do desenvolvimento.
Entretanto, quando isso não ocorre, pode haver fixações que impedirão um desenvolvimento normal nas outras fases, levando para a vida adulta padrões orais de comportamento.

5. DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL

Pesquisas realizadas por Erik H. Erikson mostram a importância da fase oral no desenvolvimento psicossocial da pessoa. Erikson, concebeu o desenvolvimento da personalidade, considerando as atitudes psicossociais originadas da resolução de conflitos próprios de cada fase. Para ele, a oralidade é um complexo de experiências centradas na boca e desenvolve-se em relação à mãe que alimenta, que apóia, que acaricia, que esquenta. A modalidade básica de comportamento nesta fase, que chamou de oral-sensorial, é a incorporação.
A primeira coisa que se aprende na vida é receber. A criança recebe não só com a boca, mas com os sentidos, com os olhos, com os ouvidos, com o tato. A atitude psicossocial básica que deve aprender, neste estágio, é aquela de saber se pode confiar no mundo apresentado pela figura da mãe; saber se esta virá alimentá-la, se dará os alimentos nos horários adequados, na quantidade correta e se lhe proporcionará conforto, quando sentir-se desconfortável. A correspondência entre necessidades e a satisfação obtida é a base da confiança.
Nos animais tudo isto é fornecido pelo seu equipamento instintivo, no homem tem que ser aprendido e a mãe é a professora. Mães de diferentes culturas, classes ou raças ensinam a confiança de maneiras diferentes, fornecendo aos filhos sua versão cultural do universo.
Aprender a desconfiar também é importante. As pessoas tendem a negar coisas que consideram negativas como desconfiar. Entretanto, em qualquer situação social, é necessário diferenciar quando se pode confiar e quando se deve confiar. A desconfiança, como uma forma de prontidão ao perigo e uma antecipação do desconforto faz parte do equipamento instintivo dos animais. O homem precisa aprendê-la, também da mãe.
Assim, no primeiro estágio do desenvolvimento, o conflito básico a ser resolvido em termos psicossociais é o da confiança versus desconfiança. A criança deve estar preparada para o equilíbrio entre os dois pólos. Entretanto, há mães que não ministram a dose necessária de frustrações às demandas do filho na fase oral. Isto desenvolverá uma configuração falsa do mundo, um otimismo exagerado e uma confiança muito grande, que não preparará suficientemente o indivíduo para enfrentar os problemas sociais da sua vida futura. Outras mães frustram demais e levam o indivíduo a defender-se exageradamente do mundo externo, perdendo às vezes, pela desconfiança, oportunidades importantes para aumentar sua auto-estima e desenvolver sua personalidade.

6. CARÁTER ORAL

As atitudes das “professoras” encarregadas de cuidar da criança nesta primeira fase do desenvolvimento, podem levar a diferentes conseqüências na personalidade, em forma de padrões de reação, que constituem em traços de caráter. O caráter oral é aquele cujo modo habitual de adaptação contém importantes elementos de fixações orais.
Sabemos que na fase oral há duas formas principais de atividade: succionar e morder.
Na primeira, mais precoce, há simplesmente uma tendência à incorporação do objeto, no caso o seio. Na segunda, que aparece mais tarde, quando há o aparecimento dos dentes, há uma tendência a destruir, morder, triturar o objeto antes de incorporá-lo.
Nesta fase, costuma-se dividir o caráter oral em dois tipos principais: caráter oral receptivo ou incorporativo e o caráter oral agressivo.
Quanto ao primeiro, se a criança, no período de sucção, não sofreu privações, obtendo uma grande quantidade de prazer, acredita-se que esta experiência impressa no caráter leve o indivíduo a ser otimista e a sentir que tudo conseguirá facilmente e que terá êxito em qualquer empreendimento. Além disso, pode ser despreocupado e tender à passividade e à inatividade. É como se o seio materno jorrasse leite e afeto eternamente, e isso pode, por identificação, levar o indivíduo a ser muito generoso para com os outros. Se, pelo contrário, a criança sofreu excessivas frustrações ela poderá tornar-se uma pessoa pessimista, com uma tendência ao ressentimento, e à crença de que suas necessidades nunca serão satisfeitas. Em vista disso, pode desesperadamente, tentar ligar-se aos outros, ou então, isolar-se assumindo, pela perda de esperanças, atitudes negativas em relação aos demais.
Quanto ao segundo tipo, oral agressivo, há também uma grande necessidade de ter cuidado, mas a pessoa não sente que possa obter o que precisa sem lesar ou prejudicar outras pessoas. Há uma tendência a odiar e destruir, a ter ciúmes da atenção que os outros recebem, a nunca estar satisfeito com o que tem e a desejar que os outros não tenham determinadas coisas que não as queiram para si. É como se a pessoa adquirisse forças e se vingasse das frustrações que o seio lhe proporcionara.
Em vez de implorar ou isolar-se sem esperanças, como faria um indivíduo fixado na fase de sucção, o portador de um caráter oral agressivo, atacaria o seio e obteria satisfação compensatória pelo sadismo.
As formas particulares dos caracteres orais dependem da proporção de sublimações e formações reativas no manejo dos impulsos orais. Algumas pessoas manifestam suas necessidades de dependência solicitando, quase diretamente, que os demais cuidem delas. Em geral “grudam” nos outros e solicitam atenção imiscuindo-se em suas vidas.
Predomina nas suas atitudes um tom de insatisfação e exigência como se não se ressegurassem com aquilo que recebem. Para estas pessoas cada atenção recebida induz a pedir mais. Parecem querer comer os outros ou estabelecer com eles uma ligação parasitária através das palavras. De início podem causar boa impressão, pois falam fluentemente, estabelecendo contatos sociais com facilidade.
Entretanto, logo deixam transparecer que não conseguem parar de falar e que seu contato fácil é apenas aparente. A causa deste desconcertante comportamento tem suas raízes na frustração duradoura das necessidades da fase oral, as quais procuram inutilmente satisfazer na fase adulta. Outras pessoas tendem a reagir às suas necessidades de dependência por meio de uma conduta extremamente ativa, aparentando ser completamente independentes.