quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O PENSAMENTO WINNICOTTIANO

Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, dedicou sua carreira à compreenção das crianças, olhando-as como seres formados pela integração do orgânico e do emocional. Ele enfatiza uma visão relacional da criança com seu cuidador. É dele a teoria da “mãe suficiente boa”, que seria aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades da criança, adaptação esta, que depende muito mais da devoção do que do esclarecimento intelectual.
Embora a obra de Winnicott seja uma continuação das obras de seus mestres (Freud e Melanie Klein), o fato é que ele rejeitou a metapsicologia freudiana (especulação de caráter filosófico sobre a origem, estrutura e função do espírito, bem como sobre as relações entre o espírito e a realidade.)
Nota-se, que ele preservava a tradição de uma maneira um tanto curiosa, isso porque, em grande parte, ele a distorce; vindo a desenvolver idéias muito pessoais sobre a natureza humana.
Na clínica winnicottiana, as questões de relacionamento do bebê com seus cuidadores, foi enfatizada pelo autor não sob o ponto de vista de vicissitudes pulsionais, mas em conceitos como os de dependência absoluta, dependência relativa e independência, conforme são observados em diversos trabalhos e teórico-clínicos.
Segundo ele, o bebê cria o que lá está para ser criado, significando criar não só a sua mãe, mas também a situação psíquica transgeracional encontrada por ele no momento de seu nascimento. E, pode encontrar três diferentes situações no início de sua vida: missão, enigma e questão. Procura-se descrever as consequências para a constituição do self em cada uma dessas situações.
Winnicott trouxe idéias, derivadas principalmente de sua vivência clínica e, privilegiou o modelo de cuidado materno, transpondo-o para o setting clínico, visto como o lugar que propicia o desenvolvimento, no qual cada um está sendo criado e descoberto pelo outro, é uma experiência de mutualidade. Ele dirigiu sua atenção à pacientes que tiveram falhas ambientais precoces, preocupando-se em auxiliar na busca e no encontro do self verdadeiro.
Winnicott em suas pesquisas, chegou à conclusão de que
é impossível falar do indivíduo sem falar da mãe, por que, usando os termos da fase madura da sua teorização, a mãe é um objeto subjetivo [...] e, portanto, seu comportamento faz realmente parte do bebê.
E, concluiu ainda, que o relacionamento inicial da mãe-bebê não é uma relação dual-externa (não-mental) e o descreve da seguinte maneira:
 Qualquer tentativa de descrever o complexo de Édipo em termos de duas pessoas está fadada ao fracasso. No entanto, os relacionamentos do tipo dois corpos realmente existem, e pertencem aos estágios relativamente mais primitivos da história do indivíduo. O relacionamento original do tipo dois corpos é o que acontece entre o bebê e a mãe ou o substituto da mãe, antes que qualquer propriedade da mãe tenha sido identificada e transformada na idéia de um pai.
No início, o pai pode ou não ser uma mãe substituta. Se ele o é, sua presença é de alguém dotado de propriedades e funções iguais as da mãe, ou seja, tudo o que a mãe representa, o pai, enquanto substituto da mãe, passa a representar.
Mas, chegará o momento em que o pai passará a ser visto num papel diferente da mãe. E, é aí que o indivíduo passa a se tornar uma nova unidade, a partir de um novo modelo de identificação. Não havendo a presença paterna esse processo irá acontecer, porém, de um modo mais lento e mais trabalhoso, ou então utilizará um outro relacionamento suficientemente estável.
Para ele, o relacionamento mãe-bebê, na qual, a comunicação é não-verbal, transformou-se num paradigma do processo analítico e, há quem defenda que isso mudou a função da interpretação no tratamento psicanalítico. Guiado por tal paradigma, Winnicott foi conduzido a novas questões e, por consequência, a novos resultados. Questões do tipo: (1) “do que precisamos para nos sentirmos vivos ou reais?” (2) “de onde vem o sentimento, quando o temos, de que nossas vidas valem a pena?”.
A fim de responder a tais questões, Winnicott as abordou, vinculando a observação de mães e bebês aos insights derivados das sessões psicanalíticas e, além disso, ele enriqueceu a psicanálise com novos insights fundamentais, que, porém, se mostraram incompatíveis com os de Freud, isso porque, ele raramente os remetia ao lugar erótico da vida adulta.
Para Winnicott, o ponto crucial da psicanálise era a vulnerabilidade inicial do bebê dependente, dentro da relação dual com a mãe, e não, o complexo de édipo como defendido por Freud. Ele concluiu que as perturbações que pertenciam ao suposto campo de aplicação do paradigma edípico, simplesmente não se encaixavam nele; concluiu ainda que, o paradigma edípico não estava inteiramente errado, mas que não era suficiente.
Enquanto Freud estava interessado na luta dos adultos com desejos incompatíveis e inaceitáveis, que colocariam em risco suas possibilidades de satisfação, Winnicott, partindo do relacionamento caracterizado pela dependência quase total, tratava essas possibilidades como parte de um problema mais amplo das possiblidades do indivíduo ter autenticidade pessoal, que ele viria a chamar de “sentir-se real”. Trabalhando dessa maneira, Winnicott desconsiderou a metapsicologia de Freud, vindo a desenvolver, durante a década de 40, uma teoria do desenvolvimento que seria um poderoso rival para as teorias tanto de Freud quanto de Melanie Klein.
Pareceu-lhe claro que a psicologia da criança e do bebê recém-nascido fosse algo bem mais complexo, em razão de sua estrutura mental também complexa. Em sua tentativa de ter um paradigma que o guiasse chegou a considerar a idéia de que bebês emocionalmente doentes, precisavam ser reconciliados de algum modo com a teoria edípica, enquanto ponto de origem dos conflitos individuais, mas, acabou por rejeitar tal idéia.
Tendo conhecido Melanie Klein que também estava tentando aplicar a psicanálise à crianças pequenas, Winnicott de pioneiro, veio a se tornar aluno desta professora pioneira, mas concluiu que a psicologia do bebê recém-nascido por ele buscada não poderia ser do tipo kleniano; entre outras coisas, Winnicott discordava da idéia dos distúrbios precoces serem tratados por Melanie Klem como sendo problemas mentais internos, e não, como problemas do relacionamento entre o bebê e a mãe. Na sua busca por um paradigma chegou a analisar outros estudiosos da área, contudo, não se deu por satisfeito.

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